Salvador, Bahia - Brasil
Cartaz de divulgação |
No dia 5 de Julho de 2015 aconteceu mais uma edição do espetáculo Dramofone, a segunda edição realizada neste ano, que tem direção da professora e bailarina Joline Andrade.
´O espetáculo DRAMOFONE leva a uma imersão em universos exóticos e híbridos, através da dança e música étnica e contemporânea, permeando por uma estética antique/retrô´, já começando pelo título do espetáculo, inspirado no Gramofone, uma invenção de 1887.
O espetáculo, sempre realizado em salvador com início em 2013, aconteceu no Espaço Xisto Bahia, e trouxe nesta edição a apresentação das alunas de turma iniciante e intermediária de Joline, apresentação das coreografias criadas para o encerramento do Curso de Formação em Tribal Fusion com Joline Andrade deste ano, e teve como convidado especial a Trupe Mandhala, grupo que eu faço parte.
Roteiro das apresentações |
O legal de toda edição do Dramofone é que vemos não só bailarinos, mas também ocorrem apresentações de poetas, atores, cantores, tem música ao vivo, e há uma fusão linda de tudo com o universo da Dança Tribal. É uma troca muito boa de experiências, de conhecimentos, de visões de mundo.
Como de costume, todo mundo chegou mais cedo para passar palco e conseguimos assistir a de quase todos. É no ensaio que geralmente a gente consegue isso porque durante o espetáculo em si nem sempre dá pra assistir todo mundo por conta da correria, troca de figurino e tudo mais (é assim em todo lugar rs). Fiquei feliz de ter assistido a dos demais no ensaio, pois todos foram bem criativos em seus temas. Mais abaixo vou fazer um apanhado geral sobre o que cada um trabalhou em suas coreografias. Quando a gente se deu conta já estava pertinho do espetáculo começar e aí é correr pra se arrumar a tempo e ainda fazer um pouquinho de resenha no camarim, claro! Como de costume, antes do público entrar a Joline convida a todos os artistas para uma grande roda para fazer uma dinâmica meio oração para trazer bons fluidos para a apresentação a seguir.
A casa estava cheia, mas com um público super educado. Não teve barulho, conversa alheia nem celular. Eram só olhos focados no palco para absorver tudo que seria apresentado.
Nós da Trupe fizemos a abertura com a coreografia Volante Tribal, um trabalho lindo de Tribal Brasil.
Trupe Mandhala – coreografia Volante Tribal
A gente já dançou essa coreo com a Kilma Farias no Bailares aqui em Feira de Santana, já dançamos ela em quarteto, até em trio, mas no Dramofone a gente levou uma versão super completa com 7 pessoas no elenco. Uma das apresentações mais lindas desta coreo.
Release: Entre Águias e Gaviões, falcões e Caracarás, espalharam-se pelos sertões adentro, exploradores e percussores de um mito de coragem com aspas ao medo, onde a fome e a seca eram misturadas entre ritmos de passos de alpercatas e tiros, onde se foi intitulado de Volante um exército de justiça pelas próprias mãos nem sempre justas, onde adereços se mesclando com cheiros e cores, tornaram a nossa história atrativa para todo o mundo. Pelas mãos e voz de Bruno Bezerra, artista local da cidade de Feira de Santana, a Trupe Mandhala apresenta o formato da Volante do Tribal, um segmento que representa de uma forma contemporânea uma colagem com estilos de danças populares regionais, com movimentações características do xaxado original, baião e tribal fusion. Uma visão arrebatadora da força que existe em cada um dos nordestinos pela dança que sempre a homenageia com maestria.
Como nesta edição fomos as convidadas especiais, levamos 4 coreografias, além do duo meu e de Vika que foi do encerramento do Curso de Formação em Tribal. Já que comecei com a Trupe, vou falar logo sobre as demais coreos que levamos e depois falarei sobre as outras apresentações da noite.
Outra coreo de grupo que levamos foi a Oráculo de Delfos, quem tem uma temática, música e ambientação bem diferente da Volante.
Trupe Mandhala – coreografia Oráculo de Delfos
Gente, eu AMO todas as coreos da Trupe, mas essa é especial, sempre me deixa arrepiada por tudo que ela é. A coreografia é inspirada na história deste Oráculo situado em Delfos, na Grécia. Havia lá um templo consagrado a Apolo, onde a sacerdotisa Pítia tinha visões e apresentava profecias em total estado de transe (alguns dizem que este transe era provocado por vapores que subiam de uma fenda no rochedo onde o templo havia sido construído). Trouxemos então alguns personagens que representam estas visões, que são delírios de uma sociedade doente, com variados transtornos mentais, e apenas Pítia, a personagem principal vê, e interage com eles. A partir desta explicação, assistir o vídeo vai ter um significado todo especial agora. Outra coisa que adoro é a música, ou melhor, as músicas. A principal é "Aerials" do System of a Down, e a introdução é uma mixagem com vários trechos de músicas de Marilyn Manson e Mike Patton montada por mim. A ideia da música, do figurino e de toda a ambientação é trazer um clima de terror, de pânico, de loucura. E eu que amo essas bandas, o estilo, o terror, fiquei imensamente satisfeita. :D
Trupe Mandhala – solo Viviane Macedo
Esta coreo, criada por Lyara e por Vika, foi inspirada no mito das fiandeiras do destino, ou Moiras. Na mitologia grega, as Moiras eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. As Moiras eram: - Cloto (significa "fiar") - segurava o fuso e tecia o fio da vida e atuava como deusa dos nascimentos e partos; - Láquesis (significa "sortear") - puxava e enrolava o fio tecido, e atuava sorteando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida; - Átropos (significa "afastar") - cortava o fio da vida, determinando o seu fim.
Vika então neste solo representa a primeira fiandeira, segurando o fuso e tecendo o fio da vida de Sofia, que está em seu ventre e vai nascer em breve.
Trupe Mandhala – Duo Mary Figuerêdo e Viviane Macedo
Este duo foi nosso trabalho de encerramento para o Curso de Formação em Tribal e o tema que escolhemos foi o Urban Tribal. Começamos com a inspiração na Dança de Rua, nas batalhas de Freestyle onde um grupo de dançarinos se reúnem para verem seus colegas mostrarem suas habilidades nas mais variadas técnicas de dança através da improvisação. É comum estes dançarinos ´´tirarem onda´´, fazendo gracinhas para seus rivais, e foi aqui que buscamos trabalhar a nossa expressividade através de brincadeiras onde uma fica desafiando a outra a mostrar sua melhor técnica, mas também trazendo momentos em que as duas se unem, mostrando que na dança, o importante acima de tudo é a união.
Trupe Mandhala – coreografia Makeda – A Rainha de Sabá
Infelizmente devido a um problema técnico não houve vídeo desta coreo, mas ela pode ser vista no youtube, basta colocar na pesquisa o nome acima.
´´A Rainha de Sabá, conhecida entre os povos etíopes como "Makeda", que recebeu diferentes nomes ao longo dos tempos, foi uma célebre soberana do antigo Reino de Sabá (Etiópia). Ao som de Baiana System, na música Pangeia que explora a guitarra baiana e conta a história de Makeda, Lyara inova trabalhando com a linguagem de sinais e movimentos de danças populares realizados de forma diferente do tradicional, tudo muito lento e pausado. Uma delícia de assistir, até porque Lyu arrasa #agenteéfã
Agora voltando para as apresentações das alunas de Jo e das alunas do Curso de Formação, como eu disse lá em cima, todo mundo foi bem criativo explorando temas inusitados.
Tatiane Cassiano trabalhou o tema Stiletto Fusion dançando tribal com um saltão agulha lindamente na cara da sociedade (invejinha, meu joelho podre não aguenta muita coisa de salto).
Luciana Carvalho fez uma coreo inspirada nos movimentos dos felinos.
Tatiana Freitas fez um solo incluindo posições de yoga no início (é o yoga dominando o tribal no Brasil também) com uma música linda da banda The XX chamada "Tides".
Isadora Moraes trabalhou o tema Dança Dramática, com referência ao Butoh no figurino ao dançar com o corpo todo pintado de branco, e realizou uma experimentação com um tipo de véu wing estilizado, que ela mesma fez, inspirado no figurino de La Serpetine Danse. De acordo com ela, as asas entraram para provocar a sensação de morte e de plenitude, e houve também a influência da Dança Indiana, pois ela conta no solo a história da tentação de Buda através de Yasodhara, que dança como um fantasma que faz uma dança de amor e saudade para o príncipe que ela tanto amou e esperou (Sidartha), mas ele está no caminho da mortificação e ela fica viúva. A dança dela é descrita então como uma dança lânguida, aquática e singela, porém com a energia da lótus (fertilidade). Foi um solo com uma pegada totalmente contemporânea.
Ia Santanche é a mulher das onomatopeias, da expressividade, do yoga, da natureza zen, do teatro, do sorriso solto, do cabelo enorme e laranja, como se estivesse em chamas. Eu particularmente adoro a Ia, me parece sempre uma pessoa muito sincera, alegre, e adoro o fato de ela parecer nunca ´´estar nem aí´´ para nada. Ela não se importa que começou a estudar Tribal agora, ela não tem medo de fazer feio, ela só quer ir lá e mostrar toda essa energia e amor que ela tem pela arte.
A performance super teatral dela se chama Garuda, uma figura mitológica presente nos mitos do hinduísmo, originariamente uma águia. Pássaro solar brilhante como o fogo, é a montaria do deus Vishnu, que é ele próprio de natureza solar. Garuda é também a palavra alada, o triplo Veda, um símbolo do verbo, ou seja, o mesmo que a águia representa na iconografia cristã. Deste mito ela se inspirou para o figurino, e o vôo inspirou sua locomoção no espaço, ela utiliza toda a área da plateia e do palco, correndo entre os espectadores proferindo versos adaptados do "Cântigo Negro" de José Régio. Ela comentou que já tinha esta performance, e aí ela tribalizou o figurino, colocando cores, se inspirando também em Bethânia no Doces Bárbaros, usou postura de yoga e focou nos braços para enfatizar a dramaticidade de suas palavras. Ia me contou que quis aprender Tribal para ampliar o vocabulário gestual dela, focando nas performances do evento Dominicaos, e que com o tempo ela percebeu que os movimentos do Tribal serviam para ampliar a voz também. E eu acho que Garuda reúne isso que ela vem aprendendo.
Texto completo Cântigo Negro - http://www.releituras.com/jregio_cantico.asp
Mariana Noronha inovou ao trazer o músico Leonardo Ogando que tocou Didjeridoo no palco (lindo demais aquilo gente) enquanto ela dançava. Didgeridoo, ou Didjeridu, é um instrumento de sopro típico dos aborígenes australianos. Ele também tocou pau-de-chuva, clave e chocalhos numa apresentação agradável e poderosa, que deu toda uma atmosfera praticamente mágica à apresentação da Mariana. Parecia que estávamos sendo transportados a algum lugar ancestral, tivemos algumas visões, e depois fomos trazidos de volta.
Cibele Aguiar trabalhou o tema Afro Fusion fazendo uma homenagem à água, onde se inspirou nas lendas de Oxum e de Iemanjá para criar a seguinte história - Diz a lenda que Oxum é a responsável por encher os rios, daí a Cibele pensou como seria se Oxum um dia fizesse greve. Os rios começariam a esvaziar, chegando as águas escassas no mar. Iemanjá vendo isto, resolve ela mesma fazer o serviço, tomando o vaso mágico de Oxum. Mas como o vaso não era dela, foi necessário que Iemanjá fizesse um ritual para poder usar o vaso, e é este ritual que a Cibele apresentou em sua coreografia; Viviane e eu escolhemos o tema Urban Tribal (que já expliquei lá em cima na parte da Trupe); entre outras meninas, algumas que não puderam se apresentar.
Das alunas de Jo, além das que participaram do Curso de Formação, teve apresentação de 3 coreos de grupo, duas de turmas iniciantes e uma da turma intermediária, e alguns solos, incluindo outro solo daTatiana e solo de Ana Caroline Antunes toda uma indiana com um cabelão lindo e movimentos precisos.
Turma Intermediária de Joline (coreografia inspirada em Mardi Love):
Ana Carolina Antunes:
Turma Iniciante 2 de Joline:
A noite foi linda como devida ser. E terá outra edição do Dramofone ainda este ano. Apesar de eu estar no dia recém saída da chicungunya, dei o melhor de mim e fiz o que pude dentro das possibilidades. Fique muito feliz em participar de mais uma edição do Dramofone (a Trupe participa desde a primeira edição se não me engano), e é sempre bom ter a oportunidade e o espaço para mostrar nosso trabalho em Salvador. ObrigadaJo, e vida longa ao Dramofone!!!
Lilililililili
Foto final com todo elenco |
Assista todos os vídeos do V Dramofone:
Confira as fotos e vídeos das edições anteriores http://www.jolineandrade.com/#!dramofonefestival/c1llo
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´´O Dramofone é um espaço de experimentação onde diversos multiartistas (dançarinos, músicos, atores, poetas e cantores) já fizeram pesquisas de hibridação com a dança tribal.´´ - Joline Andrade
Autora: Mary B. Figuerêdo (Publicitária, Professora de Tribal e integrante da Trupe Mandhala)
Texto feito e publicado originalmente no Blog da Aerith